quinta-feira, 16 de abril de 2009

É NA NOITE QUE ENCONTRO MINHA FELICIDADE

Estava vadiando pelas ruas, praças e calçadas desta nossa linda cidade, perambulando como uma cadela sem dono, com um olhar lacivo e insinuante, de quem se oferece descadamente a primeira criatura que esteja disposta a perder alguns poucos segundos de sua vida, ouvindo o convite de uma vagabunda qualquer, cujo conteúdo da conversa, não passa de elogios baratos e mentirosos, floreados com a falsa promessa de prazeres indescritíveis e inesquecíveis; a palavra NÃO tem se entoado como uma constante em meus ouvidos, meu esmalte e batom, não escondem mais as marcas do tempo, minhas roupas provocantes, já não chamam mais a atenção para meu delgado e flacido corpo, meu hálito já não tem mais o doce aroma do mel, meus seios já não despontam atrevidos sobre o fino tecido da blusa, meus longos dedos dos meus pés, que outrora se mostravam perfeitos e bem cuidados, hoje se configuram curvos, sujos e infestados de fungos, devido as longas marchas pela madrugada adentro, meus cabelos curtos, cheirosos e perfeitamente tratados com champoos e cremes, hoje dispersa um ranso forte de sebo e suor, meus olhos grandes e verdes, tornaran-se avermelhados com o passar do tempo, e o cansasso, toma conta de minhas palpebras dia-apos-dia, meu ventre firme e tonificado que antes ficava a mostra exibindo meu pequeno e delicado umbigo, hoje frouxo e recoberto por estrias, não esconde minha flacida e protuberante barriga, minhas pernas longas e bem torneadas, que no passado eram o delírios dos homens, hoje se escondem através de meias e vestes longas, que recobrem as muitas feridas, varizes e pelos que despontam incessantemente de cima a baixo, minha bunda firme, grande e redondinha, que antigamente elevou e transcedeu meu nome e minha fama, além das fronteiras nacionais, e que despertou os mais loucos e depravados desejos carnais, alojando em seu interior, membros de tamanho e calibre inacreditaveis, hoje sofre com toda sorte de doença, perebas e cicatrizes, me fazendo chorar de dor devido a hemorroidas agonizantes que projetam meu intestino para fora e sangram constantemente pelas várias fissuras e sarcomas.



Claro que esta não é a descrição literal e nem fidedigna do meu corpo, claro que seria uma inverdade utilizar todos estes adjetivos e substantivos para descrever minha carne, na verdade, acho que esta é a forma que me vejo, é assim que me sinto, cansada, decadente, um verdadeiro trapo humano, talvez seja assim que minha alma ou espirito se configurem, talves seja este o reflexo que se forma no espelho da minha alma, talvez a única solução que me resta, é continuar perambulando pelas ruas, praças e avenidas, me oferecendo e mostrando meu corpo ainda belo, em trajes indecorosos, que assanham o fetiche e a promiscuidade dos homens, fingindo ser a santa que não sou, orgulhando-me de um diploma universitário mais vagabundo do que a própria graduada, concebendo prazer e dor a todos que me conhecem, envolvida em um rótulo bonito de mãe, esposa e responsável, mas que na verdade, chora ansiosa pelo sexo selvagem, depravado, sujo, indecente, vagabundo e acima de tudo promíscuo; cujo aroma e sabor dos muitos homens que me tem, permanecem em meu corpo até o raiar de um novo dia.

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