sábado, 6 de fevereiro de 2010

ANJO OU DEMÔNIO, CEU OU INFERNO, DEUS OU DIABO. NÃO HÁ O QUE ESCOLHER

"Quero paixão, prazer, bebedeira e todo mal. Quero ver rostos, roçar em corpos e se possível beber um benedictine ardente. Quero conhecer pessoas perversas e ser intimo delas. Quero ver você duro, sentir você grosso e não me abalar com você grande. Quero morder seu corpo, rasgar sua carne, beber seu sangue. Quero fumar um pouco, tomar um trago, picar meu braço. Quero sentir na veia o calor do sangue subir na cabeça. Quero viver mais um pouco, me aproveitar de você como um todo, exaurir meu corpo. Quero surrar o mais fraco e ficar com quem vence. Quero tremer, arrepiar , gemer, gritar. Quero dizer mentiras, ocultar a verdade, falar bobagem, ouvir sacanagem. Quero a brisa em meus cabelos, o vento em meu rosto, molhar meu corpo. Quero a garupa de sua moto, o estofado de seu carro, o sofá de sua sala, o colchão de sua cama. Quero brincar com sua cara e ser severa com sua carne. Quero abrir a boca, morder a vida e ser despedaçada por ela".
CARNAVAL, uma festa que celebra a vontade e os desejos da carne, período em que as pessoas se sentem no direito de trepar em demasia, violentar, trair, sobrepujar; semana em que muitos morrem, se ferem, machucam e se contaminam; dias de euforia, bebedeira, correria; noites de pecado, prazer, luxúria e glória; momentos intensos de pura rendição a música, a dança, ao beijo, e as mãos; dias de entrega, de êxtase, de revelador suor; período em que abraçamos o diabo e contemplamos sua face; e foi justamente neste período, a muitos anos atrás, que algo surpreendente aconteceu, eram dias furiosos de carnaval, já estava pronta para a dor, a insonia e ao álcool, foi ai que, quando eu menos esperava, quando estava prestes a sentir o doce e morno hálito do diabo, momentos finais de agonizante espera, que tive um encontro com DEUS. Hoje ao fechar os olhos, penso: Melhor seria não ter o conhecido, talvez assim sua fúria fosse mais branda, talvez minha ignorância aplacaria sua íra, quem sabe não serias tão severo com sua filha... Tudo bem se não queres me ajudar, pois sei que não sou digna de alcançar sua misericordia, gostaria então que fosses neutro, imparcial e não tomes partido contra minha integridade física, não me açoite e nem levante suas poderosas mãos sobre mim; MALDITO o dia em que nasci, todos a minha volta estão sorrindo neste momento, lagrimas existem apenas em meu rosto, e quem disse que o sol é para todos? BLASFÊMIA são as únicas palavras que sãem naturalmente da minha boca dia após dia, quem disse que não tenho o direito de ser amarga, nutrir-me de rancor, extrapolar minha ira? por quê tenho que aceitar calada meu destino? por quê não posso querer mais da vida? Sou eu quem vou dizer quando parar, sou eu quem vou tomar as rédeas da minha história, sou eu quem faço as regras a partir de agora. Não me mande ficar calada, se há tanto o que dizer, não me impeça de enxergar o que esta a minha frente, ouça meu alarido quando a última trombeta tocar, mas não me diga o quanto errei, pois o senhor errou primeiro comigo.
Como eu havia dito, meu encontro com DEUS, foi algo inesperado, casual, quase que acidental, pois estava preparada para curtir o carnaval em uma pequena cidade aqui da nossa região, se não me engano, estavamos no ano de 1994, mas por força maior, fui obrigada a permanecer reclusa em minha casa, e sem poder viajar, me ví coagida a continuar na tosca cidade de Uberlândia, e sinceramente, carnaval em uberlândia só dá Preto, Pobre e Puta; sem alternativa fui forçada a acompanhar minha irmã mais velha até uma igreja que ela frequentava já fazia algum tempo, não me lembro bem, mas creio que estava possessa e vermelha de ódio, pois aquele era o último lugar que eu gostaria de estar naquele momento; mas no final daquela reunião, quando já estava descendo suas escadas, eis que eu vejo a Criatura que iria mudar para sempre meu destino, o Homem que tomaria para si minha vida , o Deus que atormentaria minha alma e espírito para sempre, o Incredulo que me faria crer na divindade do amor, o Anjo que despertaria meus demônios, o Santo que me abandonaria no mais árido deserto, o Salvador que me condenaria a uma vida de eterna dor e sofrimento...
Aqueles dias, foram dias felizes, dias de paz, dias de paixão, dias de calmaria, de uma calmaria morbita como aquelas que antecedem a tempestade, uma tempestade forte e duradoura, cujo rastro de destruição, se faz presente até os dias de hoje, cujas feridas abertas, ainda não se cicatrizarão, cuja febre permanece latente em meu sangue e a dor pulsa incompreendida entre minhas pernas; Aqueles foram dias de aprendizado, dias de crescimento, dias de entendimento, dias em que eu vi e vivi o mais próximo da face de Deus, dias em que as amarras se soltaram e o escuro véu que cobria meus olhos caíram; dias em que a pulpa transformou-se em borboleta, o ceu tornou-se vermelho e compreendi que o inferno é aqui mesmo na terra; dias em que quando eu mais precisei de Deus, e implorei pela sua presença em minhas orações, e seus ouvidos pareciam não me escutar, e tu não se fizeste presente... Foi então que o diabo me acolheu.

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