quinta-feira, 29 de julho de 2010

EU AINDA ME LEMBRO...

Eu era muito jovem, estava no inicio de minha puberdade, transbordava hormônios e desejos; Mas ainda me lembro do dia em que você nasceu, do dia em que você morreu, para mim; Eu ainda me lembro de suas mãos me roçando, de seu corpo perfeito; Eu ainda me lembro de seu sorriso, boca e saliva; Eu ainda me lembro do seu gosto, cheiro e pele; Eu ainda me lembro do seu falo, seu tamanho, sua fome; Eu ainda me lembro do seu sorriso enquanto eu chorava, da sua alegria enquanto eu me contorcia de dor e de sua indiferença com a minha presença; Eu ainda me lembro do frio, da noite, das sombras; Eu ainda me lembro do seu prazer, do seu orgasmo da sua semente; Eu ainda me lembro da tua partida, dos meus gemidos, da minha loucura; Eu ainda me lembro do inicio e do fim, só não tenho certeza do resto; Eu ainda me lembro da forma em que me possuía, devorava, comia; Eu ainda me lembro do gosto de seu esperma, do cheiro do seu suor, do sal em minhas lágrimas; Eu ainda me lembro do vazio imenso, da falta de ar, da agonizante ausência de sua presença; Eu ainda me lembro da cicatriz em meu seio, das manchas em minha pele, da inflamação de minhas cavidades; Eu ainda me lembro dos sonhos não realizados, dos projetos nunca feitos e das promessas vazias; Eu ainda me lembro do carro, do ónibus e de nossa viagem; Eu ainda me lembro do filho que não tive contigo, das fantasias realizadas enquanto me masturbava, do medo de que minha mãe notasse o quanto eu estava apaixonada; Eu ainda me lembro da sua fotografia, que foi por ti, tomada de mim; Eu ainda me lembro dos locais onde morou, das roupas que vestia, e do perfume que usava; Eu ainda me lembro do meu rosto refletido no espelho, dos meus grandes olhos verdes, e da minha pequena cicatriz sobre os lábios; Eu ainda me lembro do preservativo que guardei, do cigarro escondido, do álcool nos finais de semana; Eu ainda me lembro dos incontaveis PROZAC que tomei e daquela semana em que me refugiei no quarto de uma UTI, na infeliz tentativa de alcançar a liberdade; Só não me lembro de ter feito amor com você, apesar de lhe desejar mais do que minha própria vida.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

POR QUE FAZER DE MIM UMA SANTA, SE MEU DESEJO É SER MERETRIZ

O ser humano, é hipócrita dos pés a cabeça, é o único ser que fala uma coisa e faz outra, e se isso não bastasse, ele é capaz de julgar e condenar uma pessoa, que tem os mesmos problemas e comete os mesmos erros do que ele; Por que algumas pessoas insistem em tentar me mudar? Por que querem que eu mude de vida? Por que querem que eu seja uma pessoa melhor? Não tenho as respostas para todas estas perguntas, mas creio que seja porque vivemos em uma sociedade de aparências, onde uma mulher não pode ser quem ela realmente é, e nem querer o que ela realmente gosta; Somos fantoches nas mãos dos homens; Eles querem se deitar comigo, mas não querem acordar do meu lado; Eles querem trepar, usufruir e machucar meu corpo, mas não querem fazer amor e nem cuidar de mim; Eles querem gozar e sentir prazer, mas não querem pagar o preço; Eles querem despejar seus líquidos e ranço em meu corpo, mas não querem beber da minha saliva; Eles querem colocar seus órgãos imundos em minhas fendas, mas não querem se sujar com meu perfume e batom; Eles querem inundar meu útero e intestino com seus sêmem, mas não querem carregar meu filho; Eles querem ... Mas, e EU? O que quero não é importante? Devo continuar na penumbra da noite, me escondendo e disfarçando meu verdadeiro eu? Não posso também querer TREPAR, GOZAR, SATISFAZER MEUS DESEJOS E FANTASIAS? A sociedade implora para que eu seja mais uma menina de rosto bonito e comportamento irrepreensível, não me querem perambulando pelas ruas, nem fazendo amizade com suas filhas, não me querem próxima de seus maridos nem do lado de seus filhos, não me querem nas festas, praças nem igrejas, na verdade, eles não me querem de maneira nenhuma... Mas quando se sentem só, embriagados pela solidão e pelo ardido fel da desilusão; O meu nome, é o primeiro a ser clamado por todos aqueles que precisam de um pouco de carinho e atenção!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

XEROX DO MEU RAIO-X

Se você pudesse voltar atrás, para que época retornaria? infância? adolescência? juventude?... Eu penso nestas coisas, todos os dias; não porque eu me arrependa de alguma coisa que fiz, não; São apenas devaneios, que flutuam em minha mente, e me levam a refletir e a indagar como seria minha vida se eu tivesse feito tudo diferente.
Se pudesse voltar os anos até o inicio de minha juventude, naqueles anos em que trepei, bebi, cheirei e me piquei em demasia, dias em que me entreguei ao prazer e ao sexo, época de extrema contradição entre dor e prazer, sorrisos e lágrimas, céu ou inferno; Ainda assim não conseguiria mudar o rumo em que minha vida se encontra, mesmo fazendo tudo diferente a partir do inicio da minha louca juventude, não conseguiria minimizar o fardo que carrego sobre meus ombros.

Se pudesse voltar ainda mais os anos, época da minha adolescencia; Anos em que deixei de ser aprendiz e passei a ser profissional no quesito "sexo", dias gloriosos regados a muita perversão extrema, imoralidade e inocência corrompida; Dias em que o dinheiro, o sexo, os homens eram meus Deuses; Dias felizes, em que o brilho do sol eram ofuscados pelo sorriso de uma obscena garota; Se fizesse tudo diferente nesta época, ainda assim teria que carregar a cruz que hoje levo.
Se pudesse retornar aos loiros anos da minha imaculada inocência, época da minha infância, dos meus dias de criança, época em que eu tinha uma boneca como filha e minhas brincadeiras machucavam apenas minha pele, e não minha alma; Lembro-me dos bons momentos em que papai me colocava em seu colo, e me fazia sonhar; Lembro-me das gostosas brincadeiras de rua, e dos proibidos esconderijos atrás de nossa casa; E mesmo nesta época, se eu pudesse retroceder, ainda assim, estaria fadada a trazer comigo, todos os problemas e fantasmas que hoje ainda me assustam.
É por isso que eu digo, que de nada adiantaria ter uma segunda chance em minha vida; Talvez a única época que poderia fazer alguma diferença em minha vida, fosse aquela em que eu ainda me configurava como um simples embrião no ventre de minha mãe, uma criatura ainda incompleta e disforme, esperando resolutamente para ser parida; Compreendo então que, por mais que a vida nos dê novas chances, existem pessoas, assim como eu, que se nega a mudar de vida, e prefere permanecer no lamaçal do prazer, do que viver no manto puro da ingenuidade e inocência. Se você pudesse me conhecer, ou pelo menos me ver por dentro, entenderia o porque minha alma se parece com a xerox do meu próprio raio-x; Por isso é que eu digo: "Soy la hija de una puta"